Dólar cai e fecha a R$ 5,64, com recuo sobre IOF e ameaça tarifária de Trump; Ibovespa sobe




A moeda norte-americana recuou 0,27%, cotada a R$ 5,6460. A bolsa encerrou em alta de 0,40%, aos 137.824 pontos. Haddad sobre medidas econômicas do governo: ‘Na direção correta’
O dólar fechou em queda nesta sexta-feira (23), cotado a R$ 5,64. A moeda americana havia começado o dia em alta, mas acalmou após um vaivém do governo com as medidas de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Na véspera, os ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento anunciaram um bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano, e um aumento do IOF com o objetivo de aumentar a arrecadação em mais R$ 20,5 bilhões neste ano e outros R$ 41 bilhões em 2026.
O mercado considerou o bloqueio positivo, mas notou que as despesas foram revisadas para cima, e a alta do IOF foi considerada apenas mais uma medida paliativa.
Além disso, o aumento do IOF sobre aplicações de fundos nacionais no exterior foi interpretado como uma tentativa discreta de controle de capitais, com o objetivo de conter a saída de dólares do país e, indiretamente, controlar o câmbio.
Ainda na noite de quinta-feira, o governo voltou atrás na tributação dos fundos de investimento, mantendo a alíquota zero nesses casos.
Na manhã desta sexta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a medida foi revista após alertas de agentes do mercado financeiro, que indicaram que ela poderia “transmitir uma mensagem diferente da desejada pelo Ministério da Fazenda”.
O recuo foi interpretado como sinal de improviso e fragilidade política, o que aumentou a incerteza sobre os rumos da economia. Ainda assim, o mercado avaliou que é preferível corrigir o rumo do que insistir no erro, o que ajudou a amenizar a reação.
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, fechou em alta, aos 137.824 pontos. Na semana, o índice chegou a atingir um recorde histórico, encerrando aos 140 mil pontos pela primeira vez.
➡️ No cenário internacional, o destaque foi para as novas ameaças tarifárias do presidente Donald Trump. O republicano anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia (UE), com início previsto para 1º de junho, em resposta a barreiras comerciais e práticas consideradas desleais por parte do bloco europeu.
Trump também alertou a Apple sobre a imposição de uma tarifa de 25% sobre todos os iPhones vendidos, mas não fabricados nos EUA.
As medidas reacenderam temores sobre o agravamento das tensões comerciais globais e provocaram uma nova onda de incerteza nos mercados financeiros.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
O dólar fechou em queda de 0,27%, cotado a R$ 5,6460. Na mínima do dia, chegou a R$ 5,6455. Na máxima, a R$ 5,7446. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
recuo de 0,40% na semana;
queda de 0,55% no mês; e
perda de 8,64% no ano.
Na véspera, a moeda americana fechou em alta de 0,32%, cotado a R$ 5,6614.

a
📈Ibovespa
O Ibovespa fechou em alta de 0,40%, aos 137.824 pontos.
Com o resultado, o índice acumulou:
queda de 0,98% na semana;
avanço de 2,04% no mês; e
ganho de 14,58% no ano.
Na véspera, o índice fechou em queda de 0,44%, aos 132.273 pontos.

O que está mexendo com os mercados?
Além do bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano, a expectativa do governo é que os ajustes no IOF gerem uma arrecadação adicional de R$ 20,5 bilhões em 2025, contribuindo para o cumprimento da meta fiscal de zerar o déficit das contas públicas.
O que gerou a reação negativa do mercado, no entanto, foi a forma como o governo apresentou o pacote fiscal:
de um lado, o bloqueio de R$ 31,3 bilhões em despesas, visto como um sinal positivo de responsabilidade fiscal;
de outro, o aumento do IOF, que causou desconforto por ter sido mal comunicado, por afetar investimentos e por ser interpretado como uma tentativa de aumentar a arrecadação em vez de cortar gastos, segundo analistas.
Além disso, a elevação da alíquota para aplicações de fundos nacionais no exterior gerou ruídos sobre um possível controle de capitais — o que levou o governo a recuar da medida poucas horas depois.
“Foi um puxadinho”, resumiu o economista André Perfeito ao blog da Camila Bomfim. Segundo ele, a correção feita poucas horas depois transmite uma imagem de falta de credibilidade.
A economista Carla Beni disse ao blog que o recuo transmite “coisas muito ruins”. “A leitura é que o governo aumentou imposto e depois não segurou a pressão. Sob a ótica da comunicação é péssimo, demonstra fraqueza e suscetibilidade a pressões.”
Ambos os economistas avaliam que essa instabilidade pode fortalecer ações da oposição com o objetivo de desgastar o governo. “É um prato cheio para a oposição, economia e política num caso desse são indissociáveis”, disse André Perfeito.
Todo esse cenário ocorre em meio a um aumento expressivo das despesas públicas. Um exemplo é o reembolso feitos por aposentados e pensionistas vítimas da fraude dos descontos associativos do INSS.
O mercado também acompanha os impactos da nova medida provisória do governo que altera regras do setor elétrico e amplia os descontos na tarifa de energia. Segundo dados oficiais, cerca de 55 milhões de brasileiros serão beneficiados com descontos e 60 milhões com isenção na conta de luz.
Para Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (MackLiber), “ao optar por um bloqueio significativo de despesas e pela elevação de receitas, ainda que por meio de aumento tributário, o Ministério da Fazenda demonstra disposição de conter o avanço dos gastos públicos”.
Mesmo assim, o valor anunciado “ainda é insuficiente para assegurar o cumprimento integral da meta fiscal, dada a aceleração dos dispêndios no primeiro semestre do ano”.
Com a revogação parcial do aumento do IOF, “a estimativa de arrecadação já caiu, sem qualquer contrapartida na despesa. O déficit permanece aberto”, alerta João Arthur Almeida, CIO da Suno Wealth.
Na coletiva desta sexta-feira (23), Haddad não descartou a possibilidade de aumentar o bloqueio no orçamento por causa do recuo.
“Pode ser que tenhamos que ampliar o contingenciamento, fazer um ajuste nessa faixa. O importante é que foi revisto e nós temos uma semana para enviar o decreto”, disse.
Devido à política fiscal expansionista do governo — caracterizada por gastos elevados — o Banco Central do Brasil (BC) tem mantido a taxa de juros básica da economia brasileira em patamar elevado (14,75%).
🔎 A lógica é que juros mais altos desestimulam o consumo, pois fica mais caro fazer empréstimos ou compras a prazo. Ao reduzir o consumo, a demanda por produtos diminui, o que ajuda a controlar a inflação, que ocorre quando a oferta não acompanha a demanda.
Sobre o assunto, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que ficou evidente que o objetivo do Ministério da Fazenda era perseguir a meta fiscal. Ele elogiou a postura da equipe econômica por reagir rapidamente às críticas e recuar do aumento sobre os investimentos no exterior.
Galípolo também destacou que, diante do dinamismo “bastante surpreendente” da economia brasileira, é necessário manter a taxa de juros em um patamar mais contracionista por um período mais prolongado, a fim de alinhar a inflação à meta estabelecida.
CEO do Bradesco comenta as medidas econômicas do governo e o recuo em relação ao IOF
Nova ameaça tarifária de Trump
Outro fator que chamou a atenção dos investidores foi a nova ofensiva tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, que voltou a ameaçar a Apple e as importações provenientes da União Europeia nesta sexta-feira (23).
O republicano ameaçou impor uma tarifa de 25% sobre todos os iPhones vendidos, mas não fabricados nos Estados Unidos — mais de 60 milhões de unidades são comercializadas anualmente no país, que, no entanto, não possui fábricas de smartphones.
Trump também declarou que recomendará a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia a partir de junho, o que resultaria em impostos elevados sobre itens de luxo, medicamentos e outros bens fabricados por empresas europeias.
Embora a Casa Branca tenha indicado que diversos países estão buscando negociar sobre questões comerciais, o avanço desses acordos tem sido discreto.
Cenário fiscal dos EUA
Já para os mercados globais, a notícia da semana foi a aprovação pela Câmara dos Deputados dos EUA do “One Big Beautiful Bill Act” (“Um projeto grande e bonito”, na tradução), nomeado pelos republicanos em homenagem ao presidente Donald Trump.
O pacote, que agora segue para o Senado, busca tornar permanentes os cortes de impostos de renda individual e sobre herança aprovados no primeiro mandato de Trump, em 2017, além de promulgar promessas que ele fez na campanha de 2024 de não tributar gorjetas, horas extras e juros de alguns empréstimos para automóveis.
Para compensar parcialmente a perda de receita, a legislação propõe cancelar incentivos à energia verde aprovados pelo ex-presidente democrata Joe Biden e restringe a elegibilidade para programas de saúde e alimentação para os pobres.
Mesmo assim, as medidas devem adicionar cerca de US$ 3,8 trilhões à dívida americana, que já corresponde a 124% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Segundo o presidente-executivo do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, apesar de o projeto sobre impostos e gastos ter potencial para ajudar a trazer estabilidade para o país, ele não é propício para a redução do déficit público.
“Acho que eles deveriam fazer a lei tributária. Acho que isso estabilizará um pouco as coisas, mas provavelmente aumentará o déficit”, afirmou o executivo na Cúpula Global da China do JPMorgan em Xangai.
A preocupação com a situação fiscal dos EUA foi, inclusive, um dos argumentos usados pela agência Moody’s para rebaixar a nota de crédito dos EUA.
Segundo a companhia, “as sucessivas administrações e o Congresso dos EUA falharam em chegar a um acordo sobre medidas para reverter a tendência de grandes déficits fiscais anuais e custos crescentes de juros”.
Incomodados com essa situação, e também com as medidas tarifárias de Trump, os investidores estão vendendo cada vez mais o dólar e outros ativos americanos que constituem a base do sistema financeiro global.



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